Spread bancário: o que é, como é composto e qual a diferença no Brasil
Quando se fala em juros no Brasil, o spread bancário sempre é apontado como o vilão da história.
27/08/2019
Investimentos
Por conta desse percentual cobrado pelos bancos, as taxas para empréstimos e financiamentos seguem altas no mercado, mesmo com uma taxa Selic (taxa básica de juros da economia) nas mínimas históricas.
Mas, afinal, o que significa spread bancário e qual seu impacto na economia?
Neste artigo, você vai entender o conceito e descobrir por que o crédito está tão caro no país.
Siga a leitura e preste atenção aos números.
O que é spread bancário?
Em termos técnicos, spread bancário é a diferença percentual entre a taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras nos empréstimos e a taxa de juros paga nas atividades de captação dos bancos.
Simplificando: é a diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos e os juros que ele cobra para emprestar dinheiro.
Para entender melhor, vamos supor que você tenha aplicado R$ 50.000,00 em um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que oferecesse remuneração de 90% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que segue de perto a taxa Selic) no primeiro dia de janeiro de 2018.
No dia 31 de dezembro de 2018, você receberia, ao fim de um ano, R$ 2.868,87 de rendimento, sem contar com o desconto do Imposto de Renda.
Ou seja, o banco teria captado R$ 50.000,00 para usar em diferentes operações de crédito pagando, por isso, R$ 2.868,87 ao fim de um ano.
Agora, imagine se você tivesse pedido R$ 50.000,00 de empréstimo no início de 2018, com taxa de juros de 4% ao mês e parcelado em 12 vezes.
Nesse exemplo, você teria gasto R$ 13.931,30 em juros.
Ou seja, esse valor, mais de um quarto do crédito concedido, é o que o banco teria cobrado para disponibilizar o empréstimo.
Notou a diferença entre os juros que você pagou e os juros que você recebeu nessa simulação?
Esse é o spread bancário.
Esse valor varia muito de acordo com o tipo de operação, riscos envolvidos e custos administrativos.
Quanto mais alto o spread, mais caro o crédito para o tomador e potencialmente maior a lucratividade das operações para o banco.
Mas, ao contrário do que muitos imaginam, esse indicador não é composto apenas pelos lucros da instituição financeira, como veremos no próximo tópico.
Decomposição do spread bancário
O valor do spread bancário é resultado de vários componentes que incluem custos, tributos e lucros.
Estes são os principais elementos em sua formação:
- Inadimplência: diante do risco de perder dinheiro pelo não pagamento de dívidas, o banco embute uma “margem de segurança” no valor do spread para compensar eventuais prejuízos
- Lucros: a oferta de crédito é uma das principais fontes de lucro dos bancos, logo o superávit financeiro está incluso no spread
- Impostos diretos: há vários impostos contabilizados no spread, como o Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Operação Financeira (IOF), Programa de Integração Social (PIS), entre outros
- Compulsório + encargos: por lei, os bancos devem destinar 0,0125% do valor dos depósitos para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que também entra no cálculo do spread
- Custos administrativos: por fim, também são adicionados ao spread os custos administrativos do banco, necessários à viabilização do crédito.
De acordo com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, quase 40% do spread bancário no Brasil é resultado da inadimplência.
Segundo o Relatório de Economia Bancária de 2018, publicado pelo Banco Central, a composição do spread bancário fechou o ano com os seguintes percentuais:
- Lucros dos bancos: 14,04%
- Inadimplência: 38,8%
- Custos administrativos: 25,5%
- Tributos e FGC: 22,1%.
A mensagem dos últimos relatórios é de que a inadimplência é o componente de maior peso no spread e no custo do crédito no país.
Spread bancário no Brasil em comparação com o mundo
Atualmente, o Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo, atrás apenas de Madagascar.
De acordo com dados do Banco Central publicados no DCI, o spread médio da pessoa física chegou a 46,2 pontos percentuais em junho de 2019.
Mesmo com a taxa básica de juros no patamar mais baixo da história, o país segue no topo do ranking dos créditos mais caros do planeta.
Segundo os economistas Vitor Vidal e Marcel Balassiano, em artigo publicado no blog do Ibre/FGV, um dos fatores que explica essa posição é a péssima recuperação de crédito do país.
Hoje, apenas US$ 0,13 são recuperados a cada US$ 1,00 emprestado no Brasil, enquanto a média mundial é de US$ 0,34 a cada US$ 1,00.
Ou seja: há pouca segurança jurídica para evitar calotes, enquanto os custos administrativos continuam subindo ano após ano.
No entanto, como o spread é um importante indicador da eficiência financeira de um país, o resultado dos valores nas alturas é a inibição do consumo.
Como reduzir o spread bancário
Há vários caminhos possíveis para diminuir o spread bancário.
Confira alguns dos principais:
- Redução da carga tributária
- Fortalecimento da concorrência no mercado financeiro
- Aceleração da cobrança de inadimplentes
- Aumento da confiança no compromisso fiscal do governo.
Para tentar resolver a situação, em julho de 2019, o governo anunciou medidas para tentar baixar o spread bancário e reaquecer a economia, conforme noticiado pelo Correio Braziliense.
Uma mudança é o saque anual do FGTS, que poderá ser usado como garantia para obter crédito consignado.
Segundo o presidente do BC, a intenção é justamente redemocratizar o acesso ao crédito.
Outras medidas, como a liberação de amarras do setor bancário (permissão de capital estrangeiro, por exemplo) e o cadastro positivo (sistema de informação de perfis de risco dos consumidores), também podem ter peso relevante na redução do spread nos próximos meses e anos.
Um sistema de informação mais eficiente, por exemplo, já é suficiente para personalizar a taxa de juros de acordo com o risco de cada cliente, minimizando os impactos da inadimplência.
Se a estratégia for bem-sucedida, todos têm a ganhar com uma economia ativa e um crédito mais barato.
Então, se você quer acompanhar os rumos do mercado para investir melhor, fique de olho no spread bancário daqui para frente.
Recomendados
Investimentos
ADR: o que é, como funciona e as vantagens de se investir
Entenda o que é American Depositary Receipt (ADR), como funciona, quais as ...
5 anos atrás
Investimentos
Bolsa de Valores: o que é, qual sua importância e 5 razões para investir
A Bolsa de Valores pode ser uma maneira de aumentar a rentabilidade dos seus ...
5 anos atrás
Investimentos
Conselho Monetário Nacional: o que é e qual é sua importância?
Entenda o que é e como funciona o Conselho Monetário Nacional ...
5 anos atrás
{{ title }}
{{ description }}
{{ title }}
{{ description }}