Spread bancário: o que é, como é composto e qual a diferença no Brasil

Quando se fala em juros no Brasil, o spread bancário sempre é apontado como o vilão da história.

Por conta desse percentual cobrado pelos bancos, as taxas para empréstimos e financiamentos seguem altas no mercado, mesmo com uma taxa Selic (taxa básica de juros da economia) nas mínimas históricas.

Mas, afinal, o que significa spread bancário e qual seu impacto na economia?

Neste artigo, você vai entender o conceito e descobrir por que o crédito está tão caro no país.

Siga a leitura e preste atenção aos números.

O que é spread bancário?

Em termos técnicos, spread bancário é a diferença percentual entre a taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras nos empréstimos e a taxa de juros paga nas atividades de captação dos bancos.

Simplificando: é a diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos e os juros que ele cobra para emprestar dinheiro.

Para entender melhor, vamos supor que você tenha aplicado R$ 50.000,00 em um CDB (Certificado de Depósito Bancário) que oferecesse remuneração de 90% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que segue de perto a taxa Selic) no primeiro dia de janeiro de 2018.

No dia 31 de dezembro de 2018, você receberia, ao fim de um ano, R$ 2.868,87 de rendimento, sem contar com o desconto do Imposto de Renda.

Ou seja, o banco teria captado R$ 50.000,00 para usar em diferentes operações de crédito pagando, por isso, R$ 2.868,87 ao fim de um ano.

Agora, imagine se você tivesse pedido R$ 50.000,00 de empréstimo no início de 2018, com taxa de juros de 4% ao mês e parcelado em 12 vezes.

Nesse exemplo, você teria gasto R$ 13.931,30 em juros.

Ou seja, esse valor, mais de um quarto do crédito concedido, é o que o banco teria cobrado para disponibilizar o empréstimo.

Notou a diferença entre os juros que você pagou e os juros que você recebeu nessa simulação?

Esse é o spread bancário.

Esse valor varia muito de acordo com o tipo de operação, riscos envolvidos e custos administrativos.

Quanto mais alto o spread, mais caro o crédito para o tomador e potencialmente maior a lucratividade das operações para o banco.

Mas, ao contrário do que muitos imaginam, esse indicador não é composto apenas pelos lucros da instituição financeira, como veremos no próximo tópico.

Decomposição do spread bancário

O valor do spread bancário é resultado de vários componentes que incluem custos, tributos e lucros.

Estes são os principais elementos em sua formação:

  • Inadimplência: diante do risco de perder dinheiro pelo não pagamento de dívidas, o banco embute uma “margem de segurança” no valor do spread para compensar eventuais prejuízos
  • Lucros: a oferta de crédito é uma das principais fontes de lucro dos bancos, logo o superávit financeiro está incluso no spread
  • Impostos diretos: há vários impostos contabilizados no spread, como o Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Operação Financeira (IOF), Programa de Integração Social (PIS), entre outros
  • Compulsório + encargos: por lei, os bancos devem destinar 0,0125% do valor dos depósitos para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que também entra no cálculo do spread
  • Custos administrativos: por fim, também são adicionados ao spread os custos administrativos do banco, necessários à viabilização do crédito.

De acordo com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, quase 40% do spread bancário no Brasil é resultado da inadimplência.

Segundo o Relatório de Economia Bancária de 2018, publicado pelo Banco Central, a composição do spread bancário fechou o ano com os seguintes percentuais:

  • Lucros dos bancos: 14,04%
  • Inadimplência: 38,8%
  • Custos administrativos: 25,5%
  • Tributos e FGC: 22,1%.

A mensagem dos últimos relatórios é de que a inadimplência é o componente de maior peso no spread e no custo do crédito no país.

Spread bancário no Brasil em comparação com o mundo

Atualmente, o Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo, atrás apenas de Madagascar.

De acordo com dados do Banco Central publicados no DCI, o spread médio da pessoa física chegou a 46,2 pontos percentuais em junho de 2019.

Mesmo com a taxa básica de juros no patamar mais baixo da história, o país segue no topo do ranking dos créditos mais caros do planeta.

Segundo os economistas Vitor Vidal e Marcel Balassiano, em artigo publicado no blog do Ibre/FGV, um dos fatores que explica essa posição é a péssima recuperação de crédito do país.

Hoje, apenas US$ 0,13 são recuperados a cada US$ 1,00 emprestado no Brasil, enquanto a média mundial é de US$ 0,34 a cada US$ 1,00.

Ou seja: há pouca segurança jurídica para evitar calotes, enquanto os custos administrativos continuam subindo ano após ano.

No entanto, como o spread é um importante indicador da eficiência financeira de um país, o resultado dos valores nas alturas é a inibição do consumo.

Como reduzir o spread bancário

Há vários caminhos possíveis para diminuir o spread bancário.

Confira alguns dos principais:

  • Redução da carga tributária
  • Fortalecimento da concorrência no mercado financeiro
  • Aceleração da cobrança de inadimplentes
  • Aumento da confiança no compromisso fiscal do governo.

Para tentar resolver a situação, em julho de 2019, o governo anunciou medidas para tentar baixar o spread bancário e reaquecer a economia, conforme noticiado pelo Correio Braziliense.

Uma mudança é o saque anual do FGTS, que poderá ser usado como garantia para obter crédito consignado.

Segundo o presidente do BC, a intenção é justamente redemocratizar o acesso ao crédito.

Outras medidas, como a liberação de amarras do setor bancário (permissão de capital estrangeiro, por exemplo) e o cadastro positivo (sistema de informação de perfis de risco dos consumidores), também podem ter peso relevante na redução do spread nos próximos meses e anos.

Um sistema de informação mais eficiente, por exemplo, já é suficiente para personalizar a taxa de juros de acordo com o risco de cada cliente, minimizando os impactos da inadimplência.

Se a estratégia for bem-sucedida, todos têm a ganhar com uma economia ativa e um crédito mais barato.

Então, se você quer acompanhar os rumos do mercado para investir melhor, fique de olho no spread bancário daqui para frente.

 

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